Ciborgues

 

Olá caros ouvintes da rádio Centre-Ville. Aqui no Com Ciência a gente já discutiu algumas idéias que começaram como ficção científica e acabaram virando ciência de verdade. Uma dessas invenções são os ciborgues, seres que são parte humanos, parte máquina, tipo aquele policial do filme Robocop.  Hoje a gente vai ver que essa divisão entre homem e máquina na verdade é bem sutil, e que a rigor já existem muitos ciborgues andando por aí...

 

Vamos imaginar que ciborgues já existem entre nós, pessoas com alguns órgãos mecânicos. Tem um jeito bem fácil de detectar esses ciborgues – é só fazê-los passar num detector de metal. É até possível que os campos eletromagnéticos dos detetores de metal sejam prejudiciais para o ciborgue. Ora, se a gente parar para pensar um pouquinho, vai perceber que exatamente isso acontece todos os dias nos aeroportos – pessoas com marca-passos não podem passar pelo detetor de metal! Então vejam só, uma pessoa com um marca-passo cardíaco é, estritamente falando, um ciborgue! Quando a gente percebe isso, vê que já tem milhares de pessoas com implantes eletrônicos pelo mundo.

 

Um órgão bastante especial é o cérebro, e vários tipos de implantes eletrônicos têm sido desenvolvidos para ele. Um exemplo são estimuladores elétricos implantados em pacientes com o mal de Parkinson para melhorar o controle muscular. Outros implantes podem fazer o inverso: ao invés de estimular o cérebro, eles podem captar os sinais elétricos que o cérebro produz, fazendo uma espécie grosseira de leitura da mente. Pesquisadores já conseguiram treinar pessoas a usar um computador com o pensamento, usando um sensor externo ao crânio. Outras experiências foram feitas em macacos, usando eletrodos ligados diretamente ao cérebro, que são muito mais sensíveis. Dessa forma, foi possível treinar macacos a mexer um braço robótico somente com o pensamento. Claro que esse tipo de pesquisa pode acabar beneficiando enormemente pessoas paralisadas por doenças ou acidentes.

 

Também se tem feito muito progresso com implantes que melhoram os sentidos de pessoas com doenças degenerativas. No mês passado foram divulgados os resultados de implantes de retinas artificiais em ratos. Quando isso puder ser feito com humanos, a idéia seria se ter uma microcâmera embutida nos óculos, transferindo imagens diretamente para uma retina artificial implantada no olho. Esse chip transforma os sinais da câmera em sinais elétricos, que são levados ao cérebro diretamente pelo nervo ótico. Os primeiros testes dessas retinas artificiais já estão sendo feitos em humanos.

 

Já a pesquisa com ouvidos biônicos está mais avançada do que a visão artificial. Os ouvidos biônicos são diferentes dos aparelhos de audição, que só ampliam o volume. Um ouvido biônico é um implante eletrônico que transforma o som em sinais elétricos que estimulam diretamente os nervos do ouvido interno. Aprender a ouvir com esse novo ouvido é um processo demorado, mas aproximadamente 2000 pessoas já recuperaram parcialmente a audição com esses implantes.

 

Além dos implantes eletrônicos, também existem as máquinas externas ao nosso corpo mas que o complementam de diversas formas. Na sociedade atual, está ficando cada vez mais difícil viver sem elas: ferramentas, telefones, computadores, meios de transporte. Se a gente levar em consideração essas extensões do nosso corpo e cérebro, talvez seja justo dizer que todos nós já somos um pouco ciborgues...

 

Ernesto Galvão, especialmente para a Rádio Centre Ville.

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Para saber mais:

 

1- Olhos biônicos:

http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn7216

 

2- Ouvidos biônicos:

http://www.newscientist.com/article.ns?id=mg18324652.400

 

3- Outros implantes eletrônicos no cérebro:

http://www.newscientist.com/article.ns?id=dn7216