Petróleo e fontes alternativas de
energia
Olá caros
ouvintes da Rádio Centre-Ville. O nosso papo de hoje é sobre um assunto que
envolve tanto ciência quanto economia, política e até guerra. Hoje a nossa
conversa é sobre fontes de energia, e especialmente, sobre o começo do fim do petróleo.
O petróleo é um
recurso limitado. Afinal, ele foi formado a partir da decomposição de florestas
muito antigas. Quando a gente entra no carro e fica preso num engarrafamento, o
que a gente está fazendo, indiretamente, é queimar florestas ancestrais. Não é
surpreendente, então, que toda essa queima esteja aumentando muito a taxa de
gás carbônico na atmosfera, causando o aquecimento global. A escala do problema
só ficou clara nos últimos anos, e uma das atitudes que foram tomadas foi o protocolo
de Kyoto, que tenta limitar a emissão mundial de gás carbônico. Infelizmente a
implementação desse protocolo tem sido problemática – cada país tenta escapar
dos seus compromissos de uma forma ou de outra. O pior exemplo são os Estados
Unidos, que se recusaram a assinar o protocolo e continuam sendo os maiores
emissores de gás carbônico do mundo. Felizmente há também bons exemplos como a
Nova Zelândia, que daqui a dois anos vai começar a cobrar uma ªtaxa de gás
carbônicoª diretamente do consumidor de energia não-renovável.
Apesar desses
esforços de conscientização, parece que o mundo só vai diminuir mesmo a emissão
de gás carbônico quando a produção de petróleo atingir um pico e começar a
cair. Mas quando é que isso vai acontecer? A resposta depende de quem você
perguntar. Os governos e companhias têm interesse em não revelar a produção
exata e o tamanho das reservas. De
qualquer forma, as previsões do pico de produção mundial de petróleo nunca
passam de 2020 – vários especialistas apostam até que o pico pode vir antes de
2008, que é quase amanhã em termos de planejamento estratégico.
Ou seja, de uma
forma ou de outra a gente vai sentir o baque da queda da produção de petróleo, ao
invés de uma transição suave para outras fontes de energia. E quais seriam
essas fontes? Uma opção para meios de transporte são os combustíveis renováveis
de origem vegetal, como o biodiesel e o álcool de cana. O álcool já é usado em
larga escala no Brasil, enquanto o biodiesel tem um conteúdo de energia maior e
está sendo pesquisado em vários países.
Uma outra
alternativa mais eficiente é queimar esses combustíveis vegetais usando uma nova
tecnologia, a chamada célula de combustível. Essas células extraem átomos de
hidrogênio de vários tipos de combustível e os queimam de maneira
super-eficiente, sem produzir quase nenhuma poluição. O problema é que atualmente
elas funcionam melhor com hidrogênio puro, que é difícil de armazenar e
transportar. Mas tem muitos pesquisadores trabalhando para fazer as células de
combustível funcionarem também com álcool, que pode ser produzido de maneira
renovável.
Fora isso, temos
também a energia solar e a energia dos ventos, que já estão sendo exploradas em
vários lugares do mundo. O problema com essas fontes de energia é que elas
ainda são caras para produção em larga escala, mas elas têm se tornado cada vez
mais baratas e já são uma opção para alguns nichos.
Tem uma fonte de
energia que parece quase ideal: o combustível é a água, não polui, e pode gerar
grandes quantidades de energia. Trata-se da fusão nuclear, bem diferente da
fissão nuclear. As usinas nucleares atuais usam a fissão, que é a quebra de
átomos pesados como o urânio. A fissão tem várias desvantagens: produção de
lixo nuclear e a possibilidade de acidentes, como o que aconteceu em Chernobyl
há 19 anos. Já a fusão nuclear é limpa e produz ainda mais energia. O problema
é que já tem décadas que se pesquisa a fusão nuclear, e os reatores atuais só
conseguem produzir uma quantidade pequena de energia, e somente por frações de
segundo de cada vez. Mas a porta está aberta para o aperfeiçoamento, pode ser
que daqui a 20 ou 30 anos a gente tenha usinas de fusão em larga escala.
O problema de
encontrar fontes de energia baratas e limpas é um problema científico, mas que
depende muito da vontade política dos governos. Se uma fração pequena do que se
gasta em petróleo tivesse sido investida em pesquisa básica, com certeza hoje
em dia a gente já teria outras opções de fontes de energia. Vamos ver agora
como o mundo vai se adaptar ao declínio do petróleo, e vamos torcer para que a
ciência e tecnologia possam ajudar nessa transição.
Ernesto Galvão,
especialmente para a Rádio Centre-Ville.
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Para saber mais:
1- Estimativas
para o pico de produção de petróleo:
http://www.guardian.co.uk/life/feature/story/0,13026,1464050,00.html
2- Como funcionam
as células de combustível
http://www.howstuffworks.com/fuel-cell.htm
3- Um kit
educacional para construir um carrinho que usa uma célula de combustível:
http://www.thamesandkosmos.com/products/fuelcell/fc1.html