Brian May, do Queen, vai terminar a tese de doutorado após 33 anos

Brian May, o guitarrista do Queen, terminou os trabalhos da tese de doutorado que havia iniciado há mais de 30 anos atrás no Imperial College of London e que havia interrompido exatamente pelo sucesso da banda. O interesse dele pela Astrofísica renasceu ano passado quando ele escreveu um livro para crianças, com o astrônomo Sir Patrick Moore, sobre o Big Bang. Ele ainda guardava as notas escritas à mão e passou os últimos nove meses exclusivamente dedicado a este projeto.

Interessante, sem dúvida, mas algumas coisas não estão bem claras para mim. É claro que ele não tem as preocupações que os pesquisadores mortais têm: arrumar dinheiro para viver, arrumar dinheiro para seus projetos, relatórios de avaliação, disciplinas/cursos, burocracia, contas para pagar, outros serviços administrativos, etc. Assim a dedicação dele é potencialmente maior que qualquer estudante de pós-graduação bolsista brasileiro, em dedicação exclusiva. Em nove meses ele pegou o que tinha, organizou, viajou para as Ilhas Canárias (sem se preocupar em conseguir passagens ou diárias dos órgãos de fomento) e tirou mais alguns dados. Como orientador, vou usar este exemplo para massacrar meus orientados e dizer que eles têm nove meses para fechar a tese :-P

Apesar de todo este potencial e facilidades, alguém me explique como um assunto de pesquisa em Física, ficou 30 anos, sem que nada importante fosse descoberto ou sugerido ?? Para se ter uma idéia, eu terminei o curso de Física Moderna, para os alunos do quinto período do curso da UFF. É sobre Teoria da Relatividade e Introdução à Mecânica Quântica. Enquanto estas teorias foram consideradas revolucionárias no início do século passado, o curso vai até 1930~1950. Ou seja, um bom aluno, no meio do curso de graduação em Física em 2007, já é capaz de entender quase tudo que foi feito há 70 anos atrás. Nos últimos dois anos do curso, ele vai chegar até 1970, dependendo da área. Agora o cara vem com um projeto de doutorado que está parado há 30 anos e ninguém fez nada sobre o assunto ? Só vejo uma explicação: ninguém se interessou (a outra explicação plausível é que o cara é um gênio e melhor físico que guitarrista – nesta, eu não acredito).

Há 35 anos atrás, ele publicou um artigo na revista de Ciências mais exigente do mundo: a Nature. Na época, deve ter sido importante…. Se fosse aqui na UFF, ele teria que fazer as disciplinas básicas da Pós-graduação novamente. É também louvável que ele tenha conseguido voltar ao pique de fazer Ciência depois de tanto tempo parado e ser estar atualizado. Bem, menos mal que ele está fazendo concertos para comprar telescópios para os observatórios.

Ref: MgI Emission in the Night Sky Spectrum, T. R. HICKS, B. H. MAY & N. K. REAY, Nature 240, 401 - 402 (15 December 1972). Física