Na contramão da evolução

Manthropology, um livro do antropologista australiano Peter McAllister sugere que nós, machos atuais, somos muito mais fracos que nossos antepassados. Ele é tão radical que a abertura do livro é algo como “Se você está lendo este livro, você, ou o macho que comprou este livro, é o pior homem da história. O pior e ponto final.”

Como cientista, McAllister não pode soltar ideias como estas sem ter alguma evidência. E pior, que ele mostra várias. Um exemplo: aborígenes australianos de 20000 anos atrás, correndo descalços na lama, alcançavam 37 km/h, correndo atrás da caça. Usain Bolt atinge 42 km/h, no máximo, nos 100m , com supertênis e em pistas perfeitas. É bastante improvável que as pegadas fossilizadas fossem das Olimpíadas aborígenes da época e que eles estivessem competindo por velocidade, com patrocínio, dietas secretas, etc. Os soldados romanos completavam uma maratona e meia POR DIA carregando metade do seu peso em equipamento.

Na verdade, eu pretendo comentar outra notícia (como a figura de abertura sugere). Se quiser ler a reportagem completa saiu no NY Daily News. Se quiser um texto em português, veja no Ceticismo.net. Em particular, eu discordo que somos os piores da História: não nego quanto às habilidades físicas, que não precisamos tanto quanto nossos ancestrais. Antes, quem tinha estas habilidades, tinha vantagem reprodutiva: mais esposas, amantes, (como no caso dos romanos) etc. até porque viviam mais e não morriam de fome (como no caso dos aborígenes). Genótipos privilegiados do ponto de vista de habilidades físicas eram replicados mais vezes. Hoje, estas habilidades não garantem a vantagem reprodutiva (ok, jogadores de futebol de sucesso têm vantagem reprodutiva, mas são raros). Logo os genótipos mais comuns (sem habilidades excepcionais) se replicam mais, porque são mais comuns.

A notícia que queria comentar é uma entrevista daquele que é considerado o “craque do Campeonato Nacional” Diego Souza. Após a derrota para Petkovic, digo para o Flamengo, o “crack” dá uma entrevista com a cabeça fria e diz que foi tomar satisfações com o Pet, porque ele fez uma jogada de letra, quando o jogo já estava 2×0. Continua o “craqui”:

- O mundo dá voltas. Quem bate esquece, quem apanha, não.

- …quanto estou vencendo, não fico fazendo coisas que podem prejudicar o adversário

Vejamos:

diego-souza-chutando-domingos.jpg

diego_souza_briga0.jpg

Ele não deve saber que o Petkovic, do alto de seus 37 anos, prejudicou o adversário ao driblar a defesa e colocar a bola fora do alcance do Marcos. Prejudicou ainda mais no gol olímpico, que ele gentilmente dedicou “à minha cidade”, pelas Olimpíadas, 85 anos depois do primeiro gol olímpico legal.

Enquanto a evolução humana favorece os genótipos de quem tem mais inteligência e cria alternativas mais eficientes para as tarefas que garantem a sobrevivência, o futebol parece caminhar no sentido contrário: voltemos aos genótipos dos Neanderthais, de corpo e mente! Como simultaneamente eu sou amante do futebol e da Teoria da Evolução e Seleção Natural, eu prefiro os Petkovic Sapiens Sapiens que os Diegopithecus Souzas do futebol.

P.S.: acabei de ler no Globo Online outra declaração do Primitivo:

- Disseram até que o gol foi olímpico. Não foi. Foi do Ronaldo Angelim - sentenciou o camisa 7

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