Questões de Física devem ser politicamente corretas ?

Existem algums maneiras de se elaborar uma questão em Física. Uma delas é a chamada “questão literal” (como os estudantes se referem), exemplo: dada a velocidade , no tempo , com força , etc. A vantagem destas questões é o fato de podermos testar facilmente se a resposta não está correta (se está correta, é outra história): se tivermos uma fração, quem está em cima (numerador) faz a resposta crescer (proporcionalidade). Por exemplo, a velocidade final de um corpo em queda deve depender da altura em que foi lançado, e a altura tem que aparecer no numerador da resposta. Este procedimento é valioso e é incrível que a grande maioria dos estudantes não use o mesmo para conferir as respostas.

As “questões numéricas” envolvem números (dããã) e são fáceis de serem testadas se a questão foi colocada com dados corretos: se você calcula a altura de um prédio e encontra 5km, deve desconfiar das contas. Como a comparação é muito mais imediata, os alunos preferem este tipo de questão, na maioria das vezes. Os professores acabam fazendo mais deste tipo de questão do que as literais. Se você não leva em conta “erros de conta”, é mais fácil corrigir estas questões. O problema é que se a questão é mal colocada, aí já era: eu vi uma questão de contabilidade onde um sujeito pegava R$ 50,00 emprestado e pagava 2 milhões depois de um ano. Por erro de tradução, em versões anteriores do Halliday, uma lâmpada pesava 1,5kg. Quem fez certo e sabia realmente o que estava fazendo, deve ter ficado muito “grilado” com a “resposta certa”.

O que o título do post tem a ver com isto? Onde está o “politicamente correto” ? Em Montreal, no Canadá, está ocorrendo um movimento contra uma questão de uma prova de física, onde o professor coloca uma situação onde uma vítima é encontrada morta com um tiro e quatro estudantes são suspeitos. A Física deve determinar quem poderia ter matado, ou não, a vítima por análise da trajetória da partícula. É um problema numérico e envolvendo “situações da vida real”, como os estudantes gostam. Eu tenho certeza que aqui no Brasil, não causaria o menor impacto, mas pelas bandas do Norte, o assunto é delicado. É certo que vemos muito mais situações onde existe um estudante suspeito e dezenas de vítimas, ao contrário da questão (mais comum no Brasil). A questão é como isto cairia em Columbine High School, Virginia Tech, ou na Northern Illinois University. A presidente da Montreal Teachers Association já se colocou contra este tipo de questão. É muito difícil para quem não foi criado sobre o guarda-chuva do politicamente correto entender estas discussões (eu também não entendo porque em Boston pode-se ter armas mas não beber em público). Só para agradar aos leitores ligados à computação, esta discussão é equivalente, IMHO, à liberação ou não do Counter Strike.

Relacionado a este tema, no dia 15 de julho, Andrea Porto Carreiro, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, (e ex-aluna do doutoramento aqui da UFF) vai falar na Escola do Física do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, sobre “Física e técnicas forenses”. Eu imagino como esta palestra seria apresentada em Montreal: “uma vaca louca entra em um estábulo e mata quinze vacas e se suicida em seguida” ?

Como ficou bastante claro no post acima, a minha posição não é nada clara ou formada: eu não lembro de ter me preocupado com isto antes. Talvez comece a me preocupar agora.

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blog/entradas/questoes-de-fisica-devem-ser-politicamente-corretas.txt · Última modificação: 27/Mar/2010 23:52 (edição externa)
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